A intelectualização
saiu à rua. As damas, emproadas em tamancos de agulha, desfilam as penas da
vaidade, por entre caprichos traiçoeiros, próprios das intrigas mais normais em
localidades pequenas. Junto ao Clube, os charutos anunciam conversas
conspiradoras de umas eleições próximas. As vestes são notórias, não fossem
assemelhá-los aos aldeões que recorrem à cidade em dia de feira.
Era assim, todas as manhãs de
quarta-feira. O dia escolhido para a feira semanal. Justiniano lá estava, no
meio dos barões, ainda que o Jornal o ajudasse a passar o tempo, disfarçando o
interesse com o brusco acenar de cabeça, cada vez que o prior a ele se referia
como um homem preparadíssimo para assumir as rédeas do Centro da Caridade. Esta
fora a estratégia engendrada por ambos para impressionar o Presidente da
Câmara. Se convencessem o edil da confiança depositada pelo abade no jovem
licenciado, o caminho para assessorar o Gabinete máximo da autarquia estava
livre de impedimentos.
As Damas não lhe tiravam os
olhos. O que estariam elas a conspirar? Pensava Justiniano enquanto folheava o
Jornal e assentia em mais uma investida das afirmações do prior. Certamente que
Justiniano sabia muito bem. A sua experiência em ‘Psicologia Feminina’, como
gostava de dizer em tom de brincadeira aos amigos de faculdade, era muita.
Conhecia muito bem aqueles sorrisos. Elas queriam festa. Um sorriso
escapou-se-lhe e a elas só lhes faltou despirem-se mesmo ali.
Este sinal foi o primeiro de
muitos que Justiniano encontrou num mundo que não lhe era próximo. Os próprios
maridos, preocupados mais com a promoção do que com as necessidades sexuais das
suas companheiras, nem se apercebiam que mesmo debaixo dos seus narizes estava
criada a maior da suas dores de cabeça.
- Entremos! Retorquiu o
Presidente ao ver que já estava toda a comitiva.
…