segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Clube

     A intelectualização saiu à rua. As damas, emproadas em tamancos de agulha, desfilam as penas da vaidade, por entre caprichos traiçoeiros, próprios das intrigas mais normais em localidades pequenas. Junto ao Clube, os charutos anunciam conversas conspiradoras de umas eleições próximas. As vestes são notórias, não fossem assemelhá-los aos aldeões que recorrem à cidade em dia de feira.
     Era assim, todas as manhãs de quarta-feira. O dia escolhido para a feira semanal. Justiniano lá estava, no meio dos barões, ainda que o Jornal o ajudasse a passar o tempo, disfarçando o interesse com o brusco acenar de cabeça, cada vez que o prior a ele se referia como um homem preparadíssimo para assumir as rédeas do Centro da Caridade. Esta fora a estratégia engendrada por ambos para impressionar o Presidente da Câmara. Se convencessem o edil da confiança depositada pelo abade no jovem licenciado, o caminho para assessorar o Gabinete máximo da autarquia estava livre de impedimentos.
     As Damas não lhe tiravam os olhos. O que estariam elas a conspirar? Pensava Justiniano enquanto folheava o Jornal e assentia em mais uma investida das afirmações do prior. Certamente que Justiniano sabia muito bem. A sua experiência em ‘Psicologia Feminina’, como gostava de dizer em tom de brincadeira aos amigos de faculdade, era muita. Conhecia muito bem aqueles sorrisos. Elas queriam festa. Um sorriso escapou-se-lhe e a elas só lhes faltou despirem-se mesmo ali.
     Este sinal foi o primeiro de muitos que Justiniano encontrou num mundo que não lhe era próximo. Os próprios maridos, preocupados mais com a promoção do que com as necessidades sexuais das suas companheiras, nem se apercebiam que mesmo debaixo dos seus narizes estava criada a maior da suas dores de cabeça.
     - Entremos! Retorquiu o Presidente ao ver que já estava toda a comitiva.

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