segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A tempestade

Justiniano levanta-se assustado com o estrondo ensurdecedor que se fez sentir. A chuva, o vento e a continuada trovoada precipitam os tremores na Joaninha, a filha da criada mais antiga da casa, levando-a a correr de um lado para o outro como um pássaro atordoado à procura de abrigo. A sala fica de repente iluminada e Justiniano tenta acalmar Joaninha com as suas palavras sábias na arte do conhecimento das precipitações da natureza. A sua passagem pelo curso de Literaturas Clássicas em Coimbra tornava a sua eloquência uma lei inquestionável.
No outro lado da casa, bem longe do centro de todas as atenções, a mãe de Joaninha dava-se ao desfrute com o Pároco da aldeia, relação que já se prolongava há anos, mas, a todo o custo, o plano que engendraram, em colocar D. Prazeres como uma senhora extremamente escrupulosa, continuava a ser muito esclarecedor e ninguém ousava questionar as visitas do Pároco repetidas vezes por semana à Casa Grande, mesmo que essas visitas se dessem durante a noite.

O Pároco tinha assumido, secretamente, com D. Prazeres a educação de Joaninha e preparava um pé-de-meia para que ela fosse estudar para Coimbra onde tinha frequentado o ensino superior o recém-licenciado Justiniano. O Senhor Conde, grande amigo do Abade, conhecia toda a estratégia e prometera ser cúmplice desta situação, disponibilizando-se em dar o seu nome como benfeitor nas despesas e até alguma ajuda se necessário fosse. 

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